Bolsonaristas entram em parafuso com vídeo do presidente na maçonaria

No Telegram, vídeo gera corrente de decepção e contracorrente de justificativas em defesa de Bolsonaro

SÃO PAULO – “Bom dia, amigos, eu vi uma notícia que nosso presidente é maçom, estou muito desapontado.” Esse é um dos comentário que exemplifica parte da decepção de alguns bolsonaristas em grupos de Telegram nesta terça-feira (4), quando um vídeo de Jair Bolsonaro (PL) discursando a maçons voltou a circular na internet.

“O Bolsonaro é maçom?”, “A maçonaria criou o comunismo”, “Não acredito que fiz campanha por quatro anos para um maçom”, “Em perfil de maçom, eu passo longe. Lixo satanista!” e “Pessoal, o vídeo é verdadeiro, não adianta negarmos. A pergunta que fica agora é: por que o nosso presidente está participando de cerimônias maçom?” são amostras dos comentários de frustração em grupos pró-governo.

Vídeos de um canal do YouTube com títulos “Maçonaria Inimiga da Igreja” também foram disseminados nos grupos, acompanhados de comentários que a associam ao comunismo.

Diante da onda de dúvidas e desapontamento, militantes logo começaram a divulgar mensagens tentando conter o dano ao explicar que Bolsonaro estava fazendo campanha. O vídeo é de 2017 e Bolsonaro, em cima de um altar, diz que percorre o Brasil para entender “os grandes problemas que temos que enfrentar”.

“Petralhas estão postando vídeos e mensagens mentirosas sobre Bolsonaro: maçonaria e satanismo. Fiquem espertos e não caiam nessa!”; “Ele não é maçom, nunca foi!”; “O cara só foi pedir voto e vocês aí falando isso, Bolsonaro não é maçom. Precisamos de ajuda!”. Um dos eleitores pede que Bolsonaro se pronuncie sobre o vídeo em circulação.

Além do vídeo, a ofensiva digital contra Bolsonaro passou a divulgar fake news com montagens do presidente associando-o ao demônio.

“O plano oculto de Bolsonaro foi descoberto pela igreja, a mando da maçonaria, o Bolsonaro quer implantar o chip da besta na população crente, em aliança com George Soros, Mark Zuckerberg e iluminatis”, diz uma mensagem.

Segundo o Observador Folha/Quaest, que monitora 465 grupos de Telegram e 1.346 de WhatsApp, as mensagens mais virais sobre o assunto nesta terça foram as que tentaram explicar que a disseminação do vídeo é uma tática da esquerda para Bolsonaro perder voto entre evangélicos.

“Um vídeo de Jair Bolsonaro fazendo um discurso pedindo votos em uma maçonaria foi ressuscitado. Perfis falsos de esquerdistas se passando por cristãos nas redes e robôs estão criando uma narrativa” é o conteúdo mais difundido no Telegram, encaminhado cerca de 90 vezes.

“Por que eles não postam também foto do presidente Bolsonaro na Igreja Universal, na Mundial, na Assembleia, na Igreja Quadrangular? O presidente Bolsonaro é presidente de todos” diz outro comentário, encaminhado cerca de 50 vezes.

No WhatsApp, entretanto, a mais compartilhada diz que “A Igreja Católica não aceita que os seus fiéis sejam da maçonaria e historicamente já se opôs radicalmente a esta sociedade secreta, devido aos princípios anticristãos maçônicos”. O monitoramento da Quaest não inclui imagens.

Apoiador de Lula, o deputado federal André Janones (Avante-DF) se adiantou e fez uma live no fim do dia. Disse que antes de se converter evangélico, foi convidado a ingressar na maçonaria. A então sogra, contudo, teria lhe mostrado um vídeo explicando “o que acontece lá, o pessoal que vende a alma, o negócio do pacto lá com o bode etc.”

“A gente não sabe o que Bolsonaro negociou lá na maçonaria para eles apoiarem ele. Não estou dizendo que ele fez isso. Mas não posso garantir, por exemplo, que ele não negociou em nome dos próprios eleitores.”

O parlamentar escolheu como cenário da live o pátio do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, fechada com Bolsonaro.

Para defender o presidente, várias pessoas justificaram que o vice Hamilton Mourão (Republicanos), eleito senador pelo Rio Grande do Sul, é maçom e que Bolsonaro precisa dialogar com todos para se eleger. Eles usam uma reportagem da Folha, de 2018, que relata que o vice é maçom há 20 anos e que incluiu em sua campanha visitas a templos dessa fraternidade de homens.

No vídeo do templo, Bolsonaro diz que não está como candidato e que saiu “da zona de conforto que é um mandato parlamentar”.

Muitos grupos religiosos, como parte dos evangélicos, comparam a maçonaria a uma seita. O Vaticano já afirmou que os princípios maçons são incompatíveis com a doutrina da Igreja Católica.

Em 1983, o então cardeal Joseph Ratzinger, futuro papa Bento 16, assinou documento em nome da Santa Sé reforçando “o parecer negativo da igreja a respeito das associações maçônicas”.

A Folha mostrou que a campanha petista deve usar as imagens caso Bolsonaro suba o tom da campanha. Os termos “maçonaria”, “decepção” e “Bolsonaro satanista” também entraram na lista dos assuntos mais comentados do Twitter.

O segundo dia de campanha para o segundo turno da eleição mostra que ataques envolvendo questões religiosas serão explorados na disputa por votos. O PT também voltou a ser alvo de um vídeo manipulado que mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizendo que faria pacto com o demônio. Um outro vídeo, viral nos últimos dias, ainda relaciona Lula ao “satanismo”.

A coligação do partido entrou com uma representação nesta terça por propaganda eleitoral negativa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra apoiadores de Bolsonaro, como Flávio Bolsonaro, os deputados federais Carla Zambelli e Gustavo Gayer e o músico Roger Rocha Moreira pela divulgação do vídeo em que um homem que se apresenta como um suposto “satanista” e demonstra falso apoio a Lula.

Fonte: folha.uol.com.br

LEIA TAMBÉM

Deixe um Comentário